Juvenília.

Às vezes enxergo a juventude como sendo uma tênue linha, uma espécie de corda-bamba entre o sucesso e o fracasso da vida.

É onde teoricamente se apresentam as melhores oportunidades, e ao mesmo tempo as maiores tentações. É onde se consolida o caráter e, pelo menos em tese, onde se vive de verdade.

É enquanto jovens que buscamos incessantemente um sentido, uma paixão, e consequentemente é onde mais nos frustramos. Experimentamos uma falsa liberdade até darmos de cara com o muro que representa nossas próprias limitações.

É aqui que precisamos decidir o futuro de nossas vidas em poucos minutos, muitas vezes sem direito (tempo) a arrependimentos.

É quando começa a se fazer presente aquela nostalgia, sentimentozinho incômodo em sua essência, que antes era privilégio dos mais velhos.

Ser jovem é ir ao extremo da mais alta montanha e cair de cabeça no abismo, tudo isso no mesmo dia. É ser atropelado o tempo inteiro por um caminhão de informações e "ordens".

É praticamente enlouquecer frente aos desafios do mundo moderno e ter que respirar fundo, engolir o vazio e tentar ser o melhor, sem poder se dar ao luxo de dizer: "Na minha época, tudo era diferente...".

Ufa!, espero sair dessa vivo.

Timidez.

Eu vivo me escondendo, não me sinto completamente a vontade em lugares muito cheios, não gosto que muita gente olhe pra mim ao mesmo tempo, sou avesso a festas se não forem de pessoas que eu seja muito amigo, não sei fazer uma social, não entendo todas as piadas e também não sei fingir que entendi. E ainda por cima rir. Gosto mais de ouvir do que falar, não consigo fingir que tenho resposta pra tudo só para parecer esperto. É fácil me deixar vermelho (até pela internet conseguem fazer isso). Por medo, procuro não dizer coisas sem pensar. E pensar muito, as vezes, é um procedimento sem resultado garantido. Não sei arrumar desculpas que sejam convincentes, que realmente não se pareçam com desculpas. Fico nervoso quando minto. E fico nervoso também quando estou conversando com uma pessoa pela primeira vez.

(Minha antiga descrição no Orkut. rs)

Ser assim às vezes faz com que as pessoas considerem você um ser frio, ou distante, ou sério demais, ou o mais comum, um ser meio tapado. E pior que as vezes nem é nada disso. Já cheguei a pensar que essa timidez acabasse com o passar do tempo, como minha mãe sempre dizia: "coisa da idade".

Mas os anos foram passando... E nada da coisa passar também. Ou seja, acho que não é coisa da idade, mas sim um traço da personalidade mesmo.

E vou tentando conviver com isso. "Desculpe, é que sou meio tímido." É a frase que toda pessoa "reservada ao extremo" já está acostumada a dizer.

Cinza.

Olhando este dia cinza atrás da janela do meu quarto, lembro-me de quando um dia bonito me fazia feliz. Aquele sol bem alto, brilhando, alheio ao que se passa por aqui. O céu límpido, azul, poderoso em sua totalidade. Era inspirador! Mas hoje, ao ver um dia nublado como esse, não me sinto feliz, mas me sinto bem.
Hoje o dia é meu cúmplice. Me identifico com essas nuvens carregadas, a melancolia proporcionada por elas.
Me faz pensar, O que na verdade somos?

A cada dia que passa, mais me convenço de que a justiça humana nada mais é do que trapo de imundícia.
Mata-se por nada, decide-se o destino de alguém por um acaso qualquer.

Talvez a atitude certa esteja em não se deixar levar por tudo que vemos, esses absurdos que beiram o nível da irracionalidade e são a causa da desesperança...

Mas por vezes, o que está ao meu alcance é somente sonhar no meu mundo particular, fechado, cinza, solitário. Longe da poeira, das traças e da ferrugem que consomem tudo ao meu redor. Criando a cada momento situações perfeitas. Como esse belo sol que agora rasga as cortinas do meu quarto, trazendo uma beleza eterna e particular. Simples e eficaz, capaz de mudar o mundo...e é nesse momento único que vislumbro o que realmente somos e qual é o provável futuro da humanidade desumana: Solidão. Pura e abstrata. Cinza, como essas nuvens.